As rochas contribuindo para mobilidade urbana e trazendo beleza e durabilidade aos projetos urbanísticos
Há muitos séculos as rochas são utilizadas na urbanização dos espaços públicos, e até os dias atuais elas são escolhidas em muitos projetos diante de sua resistência, beleza e durabilidade. Importante traçar um paralelo no que tange a pavimentação de vias urbanas, trazendo para esta análise a primeira via pavimentada, via em Roma (Itália), via Ápia datada de 312 a.c., com a Avenida Champs-Élysées na atualidade em Paris (França), ambas pavimentadas com rochas, sendo a Via Ápia com placas em formato orgânico e espessuras irregulares, enquanto que a via parisiense se destaca pelo uso de peças maciças de formato regular e 7cm de espessura, provando assim, que a rocha prevalece como opção sustentável e natural na evolução dos espaços urbanos.

Via Ápia – Roma, Itália

Avenida Champs-Élysées – Paris, França
Como um dos exemplos brasileiros do uso das rochas no urbanismo no passado, temos a cidade do Rio de Janeiro, que recebeu grandes investimentos no século XIX, e fez das rochas, o principal material na urbanização da capital carioca. Parte das rochas foram provenientes de Portugal e parte extraídas nas montanhas cariocas que circundavam a cidade maravilhosa. Até os dias de hoje, podem ser contempladas nas molduras estruturantes de portas e janelas dos casarios da época, na pavimentação com peças maciças, nas colunas e muretas maciças que estruturam diversos espaços urbanos, além de monumentos e chafarizes em diversas praças e na ornamentação e estruturação de igrejas por todo centro antigo do Rio. Este exemplo do uso intensivo das rochas na urbanização demonstra os benefícios que as rochas ornamentais agregam aos projetos, garantindo beleza, sofisticação, resistência e durabilidade que são observadas até os dias atuais.



Numa breve passagem pelo centro histórico do Rio é possível perceber a deterioração de muretas de concreto estruturadas com ferragem, e a durabilidade das muretas em rochas maciças que permanecem intactas servindo ao homem e mostrando o quanto são produtos resistentes e sustentáveis.
Nas últimas décadas, grande parte dos governos, intensificou esforços no desenvolvimento do sistema rodoviário de transporte, e assim, temos na atualidade uma latente necessidade de remodelar e replanejar os espaços urbanos para permitir que as cidades sejam caminháveis e que as pessoas tenham qualidade de vida ao se locomoverem. No mundo atual, a acessibilidade passou a ser enfatizada, tanto no sentido de garantir às pessoas o acesso seguro e confortável aos espaços urbanos, quanto no sentido de proporcionar o acesso adequado àqueles que possuem mobilidade reduzida, permitindo assim que todos trafeguem igualmente no âmbito urbano.






Os transportes sobre trilhos são uma alternativa na busca por melhorar a qualidade de vida das pessoas situadas nos grandes centros urbanos. Seguindo nesta ótica, temos o quadro abaixo, que mostra algumas capitais ao redor do mundo, e no qual podemos concluir que Shangai tem o dobro de habitantes de São Paulo, porém, seis vezes mais quilômetros de trilhos instalados que São Paulo. A Cidade do México tem menos habitantes e praticamente a mesma dimensão de São Paulo, porém, o dobro de estações e de quilometragem de trilhos instalados.

Esta análise demonstra o quanto precisamos continuar investindo em políticas de mobilidade urbana que ampliem a oferta de transporte sobre trilhos trazendo maior mobilidade às cidades brasileiras, e as realizações até aqui, servem de inspiração para continuarmos avançando na busca por proporcionar espaços adequados, que favoreçam o deslocamento das pessoas.
A capital baiana tem mostrado especialmente ao Brasil nos últimos anos que é possível avançar e contribuir não só com a melhoria dos espaços urbanos para a população local, mas também para incrementar o turismo ao favorecer o trânsito peatonal de áreas turísticas. Exemplo de espaço soteropolitano reurbanizado com grande sucesso é a Avenida Dendezeiros que liga a Igreja Nosso Senhor do Bonfim ao Memorial de Irmã Dulce; nesta via, as calçadas foram pavimentadas com diversas peças de granito (rocha natural brasileira) que foram produzidas especificamente para este projeto, e assim, temos placas em granito nas calçadas, meio-fios maciços em granito, mosaicos em granito com corte no sistema waterjet trazendo beleza e delicadeza a este projeto urbanístico. Nesta avenida, temos ainda, o revestimento de bancos e colunas que se apresentam ao longo da via, contrastando dois padrões cromáticos distintos de granito, permitindo assim o contraste visual entre as rochas, o que garante maior beleza a este espaço público. Requalificar a Avenida Dendezeiros que passou a ser chamada de “Caminhos da Fé”, trouxe melhor qualidade de vida para as pessoas que habitam nesta região de Salvador, garantiu melhor locomoção aos pontos turísticos desta área, atraindo assim mais turistas, fomentando o comércio local e mostrando ao Brasil que projetos de reurbanização quando pensados de forma criteriosa e adequados a necessidade local, tornam-se inspiração e se consagram como um exemplo bem sucedido da atuação do poder público na revitalização de espaços urbanos que valorizam a história da própria cidade.



Planta Baixa da revitalização da Avenida Dendezeiro
Ainda em Salvador, destaca-se toda reurbanização do centro histórico, que recebeu diversos investimentos no intuito de permitir a melhoria da mobilidade urbana, nesse contexto temos o Farol da Barra que recebeu em toda sua extensão, revestimento de granito em placas de 7cm de espessura em três distintos granito formando belos mosaicos por onde a população trafega ao contemplar o farol; a Praça Cayru com meio-fios maciços em granito, placas em granito nas calçadas e placas formando desenhos em diferentes padrões cromáticos de granito, trazendo beleza e contribuindo com a ornamentação do espaço. O metrô em Salvador é outro exemplo bem sucedido de melhoria na mobilidade urbana, neste projeto o granito de tonalidade cinza foi amplamente utilizado, sendo aplicado em calçadas, todo revestimento do piso, escadas, lavatórios, divisórias,… , trazendo beleza, durabilidade, resistência, e facilitando a manutenção diária, além de reduzir a visualização de sujidades, através do padrão cromático acinzentado da rocha escolhida.


No urbanismo mundial há inúmeros exemplos do uso bem sucedido das rochas ornamentais: uma das maiores ruas da Europa destinadas exclusivamente ao tráfego peatonal está situada na Dinamarca, em Copenhague, a via Strøget, que recebeu um belíssimo projeto para o piso com o uso de rochas de diferentes padrões cromáticos perfazendo um desenho geométrico que encanta e impressiona pela beleza e sofisticação.

Strøget, Copenhague, Dinamarca, é considerado o mais longo complexo pedonal do mundo por vários guias de turismo, mostrando a importância de se desenvolverem espaços para as pessoas dentro das cidades
As estações de metrô na Grécia, são outro grande exemplo, demonstrando o quanto podemos usufruir das rochas em um único projeto, ao conciliaram o uso: no revestimento do piso com diferentes paginações e composições cromáticas, nas obras de arte, e nas bases estruturantes de apoio de exposição de peças da história grega, mostrando assim, que diferentes tipos de rochas, com diferentes padrões cromáticos se completam em composições arquitetônicas exclusivas, tornando os locais especiais e encantadores.


Dentro de todo esse panorama, podemos concluir que as rochas podem ser utilizadas de diversas formas na urbanização: como pavimentação (revestimento de piso, meio-fio maciços, guias, golas de árvores, grelhas de escoamento de água), como mobiliário maciço (bancos, colunas decorativas, …), como meio de expressão de dons artísticos (monumentos, bustos, chafarizes, …), como peças estruturantes (muretas, colunas, escadas, vigas, aquedutos, …), e assim, através das rochas as áreas urbanas ganham vida.
O uso das rochas permite que as cidades sejam urbanizadas para em primeiro lugar atender as pessoas, garantindo seu tráfego pedonal com qualidade, priorizando sua perfeita mobilidade dentro do plano urbano e garantindo assim, conforto e segurança ao percorrer esses trajetos para todos os públicos.
Araciene Pessin





